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V SEPEL   - 2018-1

Seminário de Pesquisa em Letras da UTFPR

PESQUISAS DO TRADLIN - TRADUÇÃO ESPECIALIZADA-TÉCNICA (Profª  Silvana Ayub)

 

 

Bruno Pereira, Camila Helena e Fedora Muñoz

Uma imagem vale mais do que mil palavras, mas...tente dizer isso sem palavras.

A eleição de Obama nas capas da Time e da Veja

 

Evellyn Gasparello, Andréa Carla dos Santos e Gabriel Ortiz Nunes

Fã Tradução e Tradução Editorial em Jogos Vorazes:

Tributos ou Carreiristas?

 

Felipe Buss, Ligia Cristina Stival Muraro e Hyriah Karollyne

Tá dando onda na tradução: Questões de dublagem

 

Elizabete dos Santos Leiros Batista

Ambiguidade Lexical E Humor: O Processo De Tradução Audiovisual da Série Brooklyn Nine-Nine

 

Caroline dos Santos e Ilga Fernandes

These are memoirs of another kind: a construção da identidade cultural ocidentalizada na obra Memórias de uma Gueixa

 

Millena Marceli Torquato dos Santos

A Incrível Tradução Intercultural em “Os Incríveis 2”

 

Ruan Paollo Rosa e Joana Studbrach Ferreira de Souza

Da “queda de um líder” ao “fate of democracy”, a prisão do ex-presidente Lula na perspectiva da tradução jornalística

RESUMOS

Bruno Pereira

Fedora Paulina Muñoz Alcaino

Camila Helena Pereira Rosa

Uma imagem vale mais do que mil palavras, mas... tente dizer isso sem palavras! 

A eleição de Obama nas capas da Time e da Veja

Antes de estruturar a linguagem escrita, o ser humano utilizava desenhos para comunicar-se.  Ademais, a imagem também teve um papel educativo nas mais diferentes civilizações. No Egito Antigo, por exemplo, a imagem era utilizada para exaltar governantes, registrar acontecimentos e manifestar crenças. No Renascimento, a arte religiosa aproximava a Bíblia da população analfabeta. A partir da Revolução Industrial, o poder persuasivo da imagem permitiu sua apropriação pela publicidade e pelo jornalismo. Nesse sentido, a informação passou a ser de domínio público, influenciando e formando a opinião dos leitores. Por essa razão, não existe jornalismo despretensioso. É preciso cativar uma audiência pagante, e as revistas são hábeis em gerar interesse confrontando imagens e textos que dramatizam a realidade. As capas de revistas geram uma articulação multinível entre aspectos linguísticos, sociais e cognitivos, aproximando-se do que Nord (2016) e Marcuschi (2001) comentam sobre o fato de os textos serem uma proposta de construção de sentidos, ou seja, só se realizam com a participação ativa do leitor. Considerando a importância desse cenário, nossa proposta é analisar capas das revistas Time e Veja, como instrumentos de persuasão e construção de realidades (SCALZO, 2003).  A revista norte-americana Time foi fundada em 1923 com o objetivo pioneiro de apresentar ao leitor um resumo semanal de notícias. O êxito da fórmula inspirou Victor Civita a lançar no Brasil, 45 anos depois, a revista Veja. Tanto a Time quanto a Veja apresentam matérias sobre tendências relevantes, embaladas em uma potente identidade visual, e são as duas revistas semanais de maior circulação do mundo. Diante do extenso mosaico que as capas de Time e Veja apresentam de suas respectivas sociedades ao longo do tempo, o escopo desta análise limita-se à eleição de Barack Obama para a presidência dos EUA em 2008. Desde a fundação da Time, os EUA tiveram 24 eleições presidenciais. A Veja acompanha as eleições americanas desde os anos 1960, em meio a uma atmosfera política tumultuada, marcada por rupturas do tecido social americano que abriram caminho para mudanças demográficas significativas. A personificação dessa sociedade mais heterogênea foi Barack Obama, o primeiro presidente negro. Parte da popularidade de Obama foi construída pela imprensa. Jornais, revistas e a internet celebraram sua figura como o triunfo da democracia sobre o preconceito racial. No Brasil, com um sistema político que dificulta renovações, a imprensa destacou o ineditismo de Obama. Sua postura confiante, sorriso genuíno e eloquência sedutora forneciam matéria-prima para inúmeras reportagens amplamente favoráveis ao candidato. Outrossim, sua postura liberal fez dele uma figura pública admirada em todo o mundo. Neste trabalho, portanto, a eleição de Obama em 2008 é analisada pela perspectiva da tradução jornalística (ZIPSER, 2002), comparando-se capas da Time e da Veja sobre o assunto. Esta comparação permite identificar como a interação entre imagem e texto fornece, a partir da notícia, o substrato para a produção de sentido e a construção de realidades pelo leitor. Por fim, contribui para uma reflexão sobre a relevância da multimodalidade (HEBERLE, 2011) na sociedade contemporânea para (in)formar, esclarecer, persuadir e entreter.

 

Palavras-chave: imagens, Obama, capas de revista, tradução jornalística.

 

 

Andréa Carla dos Santos

Evellyn Gasparello

Gabriel Ortiz Nunes

Fã tradução e tradução editorial em Jogos Vorazes: tributos ou carreiristas?

Existem muitas obras literárias, como The Maze Runner ou The 5th Wave, que causam impacto e repercussão entre leitores e até se tornam filmes, motivando os fãs a intervir na história e criar novas produções como a fanfic e a fã tradução. Jogos Vorazes, distopia de Suzanne Collins (2008), aclamada em diversos países e traduzida para 26 línguas, é exemplo desse processo de fã tradução. No Brasil, esse foi o caminho para a disseminação dessa obra. Geralmente, esse processo ocorre a partir da insatisfação com a tradução da editora, o que leva os fãs da obra original a optar por criar uma nova tradução. Em Jogos Vorazes, porém, o processo ocorreu de maneira inversa ao padrão editorial. Devido à falta de uma tradução oficial no Brasil, o fã torna-se protagonista, traduz a obra e a disponibiliza em redes sociais. Assim, temos o texto original, a tradução dos fãs e, por fim a tradução editorial. Por conta dessa inversão, a tradução oficial publicada pela editora causou estranhamento nos leitores, já acostumados com a tradução dos fãs e a terminologia presente no universo da obra. Motivados a oportunizar o acesso à história e possivelmente desconhecendo estratégias tradutórias, os fãs se arriscam a publicá-la em redes sociais para falantes da língua alvo.  Nestes casos, algumas traduções de fãs tendem a ser mais valorizadas e até aceitas como padrão pelas editoras. O livro Jogos Vorazes é, nesse sentido, precursor do que é hoje uma tendência no mercado mundial: romances distópicos e pós-apocalípticos, repletos de ação. Nesta obra, somos apresentados a uma nova América chamada Panem. Dividida em 12 distritos, a Capital edificou-se após a destruição dos Estados Unidos e como retaliação a um motim rebelde, criou uma competição de jogos. A cada ano cada distrito era obrigado a enviar um menino e uma menina, chamados ‘tributos’, entre 12 e 18 anos, para participar dessa competição. Com regras simples, os 24 tributos são levados a uma arena e lutam entre si até a morte, restando apenas um único sobrevivente vitorioso que leva glória para o seu distrito. Na 74° edição dos jogos, Katniss Everdeen, de 16 anos, voluntaria-se como tributo dos Jogos Vorazes para poupar a irmã que havia sido escolhida, assinando uma possível sentença de morte. Através das reviravoltas e dificuldades enfrentadas pela protagonista na luta para sobreviver, os leitores são apresentados ao seu passado e seu relacionamento com Peeta Mellark, outro tributo enviado pelo Distrito 12 para lutar nos Jogos Vorazes. Motivados pelo dinamismo da história e suas personagens, destacamos dois trabalhos acadêmicos sobre Jogos Vorazes: a monografia de Pâmela Gonçalves (2014), que analisa a representação do feminino na personagem Katniss e o artigo de Galdino e Dantas (2017), que analisa ocorrências estrangeirizadoras e domesticadoras na tradução editorial. Nesse sentido, o diferencial de nossa pesquisa está na análise e comparação de estrangeirismos nas traduções de fãs e da editora, considerando localidades, animais e ocorrências aleatórias na obra de Suzanne Collins. Como fundamentação teórica, utilizamos Christiane Nord (2016), Lawrence Venuti (2002) e Rosemary Arrojo (2002).

 

Palavras-chave: fã tradução, tradução editorial, estrangeirização, Jogos Vorazes.




Felipe Buss

Hyriah Karollyne

Ligia Muraro

Tá dando onda na tradução: questões de dublagem

Anthony Burguess, autor de Laranja Mecânica, afirma que a “tradução não é uma questão apenas de palavras, é uma questão de fazer toda uma cultura compreensível”. Presente no dia a dia de qualquer pessoa, a tradução não só transpõe informações entre idiomas, mas sobretudo, traduz pensamentos, emoções, intenções e culturas em palavras, imagens e falas. Por exemplo, pôsteres de filmes traduzem o conteúdo do filme de modo a torná-lo mais atraente, persuadindo o público para assisti-lo. Dados de uma pesquisa realizada pela Folha de São Paulo em 2015, apontava que 59% do público que ia ao cinema assistia filmes dublados, 28% preferia filmes legendados, enquanto 13% assistia produções nacionais. A ‘Branca de Neve e os Sete Anões’, de 1937, foi a primeira dublagem brasileira de um filme estrangeiro, iniciando a tradução de dublagem no Brasil. Ao contrário dos dubladores de outros países como, por exemplo, os hispânicos, que acrescentam um certo drama latino na interpretação de seus personagens, os brasileiros tentam reproduzir o tom dos atores originais. “Procuramos interpretar com naturalidade”, afirma Zodja Pereira, fundadora e proprietária de um estúdio de dublagem em São Paulo, Dubrasil Central de Dublagens. Considerando este cenário nosso objetivo é apresentar uma análise comparativa da versão original e dublada da animação de 2007, Surf’s Up (‘Tá dando Onda’), dos diretores Ash Brannon e Chris Buck. O filme envolve características da cultura do surf e está repleto de gírias e trocadilhos em inglês, analisados nesta pesquisa do ponto de vista da dublagem na versão brasileira. Como fundamentação teórica utilizamos Christiane Nord (2016), que afirma “ser essencial o domínio linguístico-cultural e uma visão abrangente do contexto e da situação comunicativa por parte do tradutor/dublador, para que este possa definir melhor a forma e a função do texto/filme de chegada”. Segundo Kramsch (2002), a língua não é apenas uma ferramenta que auxilia a troca de informações; ela também tem o poder de criar e adaptar realidades, valores, percepções e identidades dos usuários da língua. Venutti (1995), também argumenta que a tradução busca recuperar o outro cultural, e durante essa busca, corre o risco de domesticar o texto em sua forma integral, ou seja, para atingir seu objetivo o tradutor muitas vezes valoriza a cultura alvo em detrimento da cultura do texto/filme fonte. Tendo em vista a importância dos aspectos culturais e a necessidade da aproximação do espectador em relação ao conteúdo do filme, selecionamos trechos do filme original e equivalentes a sua versão dublada, analisando nomes próprios, expressões coloquiais e gírias presentes no filme. Após a seleção dessas ocorrências, comparamos essas escolhas entre a versão original e dublada. Resultados sugerem que a dublagem brasileira domesticou esses traços linguísticos de modo a aproximar o público brasileiro da história original sem que o sentido da mensagem se perdesse. Essas adaptações mostram o cuidado da equipe de dublagem para sincronizar o tempo, fala e linguagem, promovendo identificação e a interação do público com o filme e colocando o espectador/leitor final como o centro do processo tradutório.

 

Palavras-chave: dublagem, Tá Dando Onda, domesticação, funcionalismo, interculturalidade, cinema.

 

 

Elizabete dos Santos Leiros Batista

Ambiguidade lexical e humor: o processo de tradução audiovisual da série Brooklyn nine-nine

 

A tradução, segundo a teoria funcionalista de Nord (2016), baseia-se na afirmação de que todo texto, traduzido ou não, tem uma função que responde a alguns questionamentos: o que se traduz, como se traduz, para quem se traduz. Desse modo a tradução tem como foco a função do texto fonte tendo em vista o contexto social, histórico e cultural do receptor da língua alvo. Essa teoria aplica-se também na tradução do humor. O que é considerado humorístico para um leitor/espectador pode não ter o mesmo efeito para outro, ou seja, o humor é relativo e condicionado, por exemplo, ao contexto da recepção e às experiências pessoais do receptor. Por essa razão, a tradução do humor é uma área de estudo delicada por envolver peculiaridades de cada língua e como diferenças culturais intervêm na compreensão do humor. Nesse caso, conforme Liberatti (2011), uma piada cujo objetivo é provocar riso, pode perder a comicidade no processo tradutório, por desconsiderar o leitor/espectador e também pela falta de possíveis equivalentes linguísticos e culturais. A tradução audiovisual, ou seja, a tradução dos diálogos falados em uma mídia visual em uma língua-fonte para uma língua-alvo, e que pode ser realizada em formato legenda ou dublagem, é uma prática com uma série de restrições específicas quando se trata da tradução do humor. Na legendagem, por exemplo, parte-se do diálogo falado para o texto escrito. Neste caso, o tradutor deve manter-se dentro das limitações técnicas, muitas vezes substituindo termos considerados de baixo calão, pois a legenda não deve carregar a tela com muita informação, tirando o foco dos atores, além de respeitar número de caracteres, relação tempo-fala das personagens e tempo de exibição dessas falas (MARTINS e AMORIM, 2013). Por outro lado, na dublagem é necessário transmitir não só a mensagem, como também a fala na língua original para espectadores em outro contexto. Leva-se em conta também a sincronização das falas com o movimento labial dos atores e, ao ocultar a língua-fonte, permite que o tradutor altere o texto, sem que os espectadores percebam (MARTINS e AMORIM, 2013). Nesse processo, a ambiguidade lexical, ou duplo sentido, pode ser um recurso humorístico, segundo Martins e Amorim (2013), uma trapaça linguística, isto é, a fuga da linguagem pela própria linguagem através de elementos da fonologia, prosódia, morfologia e/ou sintaxe. Nesse sentido, por se tratar de uma característica da língua-fonte, a tradução de ambiguidades lexicais pode acabar perdendo parte do contexto humorístico originalmente pensado. Esse projeto analisa, portanto, a tradução do humor, no processo de legendagem e dublagem da série televisiva Brooklyn Nine-Nine, distribuída pela plataforma Netflix. Analisamos trechos com ambiguidade e sua coerência com as possibilidades de interpretação pretendidas em língua inglesa e como essas ocorrências foram traduzidas para o português, considerando possíveis perdas quanto às escolhas linguísticas que constroem as situações de humor no original.

 

Palavras-chave: tradução audiovisual, humor, dublagem, legendagem, ambiguidade, Brooklyn nine-nine.

Caroline dos Santos

Ilga Fernandes

These are memoirs of another kind: a construção da identidade cultural ocidentalizada na obra Memórias de uma Gueixa

Uma condição inerente a qualquer processo de tradução é a relação entre a cultura e língua. Klondy Agra (2007) explica que o processo de tradução não está ligado aos significados literais das palavras, mas sim, aos aspectos culturais, ao subjetivo e a visão de mundo de cada indivíduo. Nesse caso, estudar aspectos culturais de obras traduzidas pode revelar intencionalidades, apagamentos culturais e relações assimétricas de poder.  Em adaptações cinematográficas, esse apagamento é mais explícito. No mangá Ghost in the Shell, por exemplo, a personagem principal é a ciborgue japonesa Motoko Kusanagi. No entanto, a atriz escolhida para representá-la no cinema foi a americana Scarlett Johansson. Esse fenômeno também ocorre em outras adaptações culturais, como em obras que abordam a cultura indiana, africana e árabe. Por essa razão, nosso objetivo é analisar o romance Memórias de uma Gueixa, de Arthur Golden, publicada pela Imago Editora, em razão de nosso interesse na cultura japonesa e pela recepção do leitor/espectador, considerando o alcance que o livro e o filme tiveram no mundo inteiro. Ambientada da década de 1930 até 1950, Memórias de uma Gueixa narra a trajetória da pequena Chiyo, desde sua venda a um Okiya até sua ascensão como Sayuri, uma das maiores gueixas de Gion. Traduzido por “arte” (gei – 芸) e “pessoa” ou “praticante” (sha – 者), o termo gueixa  [芸者] faz referência a mulheres japonesas que estudam a tradição milenar da dança, arte e canto. No contexto do Japão, a gueixa é um símbolo cultural, repleto de status, delicadeza e tradição. Porém, na obra em questão, alguns trechos sugerem que a gueixa seja na verdade uma prostituta de luxo servindo a elite japonesa. O mesmo ocorre no filme homônimo, do diretor Rob Marshall. Em busca de uma maior aprovação ocidental, aspectos culturais importantes da gueixa foram apagados ao longo do filme como sua maquiagem e o quimono, que sofreram alterações de modo a suavizar a sua imagem. Outra questão é o casting que apresenta atrizes chinesas para interpretar personagens japonesas, indo de encontro ao senso comum de que os orientais são física e culturalmente iguais. De modo geral, a obra trouxe ao ocidente a oportunidade de explorar os misteriosos costumes de um Japão pouco conhecido. Portanto, tanto o livro quanto sua adaptação cinematográfica tiveram boa recepção no ocidente, levando milhares de espectadores a conhecer e acompanhar a transformação da gueixa, sua personagem central. Já para o público oriental, a recepção foi negativa, visto que o Japão representado no filme não corresponde à realidade. Essa ocidentalização da gueixa também é analisada por Akita (2006), questionando a forma como o autor da obra aborda a cultura japonesa e mostra a gueixa como um objeto a ser sexualizado, exotizado e romantizado. Nesse sentido, selecionamos e analisamos trechos da obra e do filme Memórias de uma Gueixa, com o objetivo de questionar como ocorre o processo de tradução cultural e seu(s) efeito(s) na construção e recepção da figura da gueixa pelo público ocidental.

Millena Marceli Torquato dos Santos

A incrível tradução intercultural em Os Incríveis 2

Ao assistir um filme no cinema, talvez o principal objetivo dos espectadores seja buscar o entretenimento, meio de fuga da realidade. Entreter significa prender a atenção, promover empatia, proporcionar lazer e divertimento, sendo assim, a linguagem de animações procura remeter experiências já vivenciadas pelo espectador. No caso das animações, a busca é também por conexão afetiva, uma vez que esse estilo conversa, muitas vezes, com experiências da infância dos espectadores, como Shrek, Rei Leão e Toy Story, por exemplo. Essa questão nos leva à ideia da tradução intercultural, o tradutor inserido no contexto em que está trabalhando. Mesmo estando inicialmente relacionada à literatura, essa concepção nos ajuda a caracterizar e desenvolver o tema da atual pesquisa: o filme Os Incríveis 2. O filme chegou às telas do cinema em 2018, despertando interesse e simpatia de crianças e adultos por ter uma família que se encaixa com a realidade de muitos espectadores, visto que as personagens realizam feitos “incríveis”, com poderes que, segundo o roteirista Brad Bird, se conectam com o contexto pessoal e a idade de cada um. Beto é o pai e provedor da família, representado como o “fortíssimo” senhor incrível. Helena, a mãe das três crianças, não surpreende ao ser a mulher elástica, que se desdobra para cuidar todos. Violeta, a filha mais velha, é adolescente, insegura e tem o poder de se tornar invisível e criar campos de força para se isolar. Flecha, o filho do meio, é o menino hiperativo que pode correr em velocidades absurdas e Zezé é o bebê da família que, posteriormente, apresenta incontáveis poderes, traço que demonstra a imprevisibilidade do desenvolvimento de qualquer pessoa. A escolha pelo filme Os Incríveis 2 se deve pelo fato de apresentar uma narrativa contemporânea, sendo a mulher - Helena - o foco central da história, trabalhando fora, enquanto seu marido Beto fica em casa cuidando das crianças, realidade comum nos dias atuais. Dentro desse tema maior, nos chama a atenção algumas escolhas tradutórias no processo de dublagem do filme para o português, implicando a nosso ver em situações de perdas e ganhos na tradução. Por exemplo, enquanto na versão legendada algumas falas são traduzidas integralmente, perdendo a ironia do texto, na versão dublada essas ocorrências são, em grande parte, adaptadas ao contexto do espectador brasileiro. Considerando isso, nosso objetivo é analisar alguns trechos de falas das personagens, considerando especificidades culturais presentes na versão dublada, para então compará-los com a versão original do filme, em língua inglesa. Para tanto, utilizamos como fundamentação teórica, a teoria funcionalista Christiane Nord (2016) que compreende a tradução como ato comunicativo sempre orientado ao leitor-final, neste caso, o espectador brasileiro; Rosemary Arrojo (2003), que desconstrói a ideia de a tradução ser sempre subordinada ao texto original, implicando nas adaptações culturais presentes no filme e Valente e Guarischi (2010), que abordam a tradução intercultural como mediadora entre culturas.  


Palavras-chave: representação cultural, Os Incríveis 2, dublagem, estratégias de tradução.

 

Joana Studbrach Ferreira de Souza

Ruan Paollo Rosa

Da “queda de um líder” ao “fate of democracy”:  a prisão do ex-presidente Lula na perspectiva da tradução jornalística                 

      

O mundo globalizado tal qual o conhecemos facilita o acesso às informações e aos acontecimentos noticiados referentes aos povos e seus sistemas de governo. As novas ferramentas e mídias de comunicação, tais como a Internet e os editoriais online, garantem que comunidades distantes possam, com a visão de um observador externo, ter acesso às mesmas informações e, consequentemente, formar opiniões sobre quaisquer eventos que afetem as mais diversas localidades e culturas. Dentre esse noticiário, este estudo analisa, com especial atenção, a tradução e a possível repercussão de eventos políticos de alcance internacional. Para ilustrar nossos argumentos, escolhemos um dos mais notórios eventos políticos ocorridos no Brasil, no ano de 2018: a declarada prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em meio a um conturbado processo judiciário que levou ao seu encarceramento e à mobilização de grupos políticos nacionais que exigiam sua soltura. Por se tratar de um fato envolvendo uma figura amplamente conhecida, as notícias repercutiram nacional e internacionalmente. Jornais de grande circulação, tais como o Estado de São Paulo, The Washington Post, Clarín, The Guardian, entre outros, manifestaram suas posições sobre o ocorrido, utilizando as manchetes e lides de seus artigos como estratégias tradutórias que enunciam de maneira sucinta o conteúdo dos textos e também o posicionamento do corpo editorial. Nesse sentido, a tradução jornalística representa um caminho na área dos estudos da tradução que busca entender e desmistificar os fatos noticiosos permitindo ao pesquisador comparar e analisar como as notícias são traduzidas, ou seja, construídas quando ultrapassam fronteiras geográficas e culturais. Por essa razão, a interface entre tradução e jornalismo é sustentada através da concepção funcionalista (NORD, 2016) que compreende todo texto, traduzido ou não, como uma oferta de informação ao leitor, e também pelas esferas de influência no jornalismo (ESSER, 1998) que nos ajudam a entender os mecanismos de funcionamento da mídia. A intersecção dessas áreas encontra em ZIPSER (2002) o que chamamos de tradução como representação cultural, ou seja, a maneira como um fato noticioso é traduzido em contextos culturais distintos. A partir desses teóricos, este trabalho analisa como o fato noticioso sobre a prisão de Lula foi recebido (lido) e traduzido pelas manchetes e lides de alguns jornais nacionais e internacionais. Para tanto, analisamos pontualmente o léxico em cada notícia e, em seguida, formamos um campo semântico, com termos recorrentes sobre o fato em questão, a fim de demonstrar a opinião dos mesmos sobre o evento. Como corpus de estudo, foram analisadas 11 manchetes dos seguintes jornais: Folha de São Paulo, Estadão, The Washington Post, The Guardian, The New York Times, Clarín, El País, Le Monde e Le Figaro. Os resultados, ainda que parciais, sugerem que é possível concluir que manchetes e lides são, não apenas elementos da linguagem jornalística (LAGE, 1997), como também recursos textuais que visam à conquista do leitor para o restante da notícia, tendo a função de atrair os possíveis leitores para a reportagem completa.

 

Palavras-chave: título, manchete, lead, Lula, tradução jornalística.

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