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III  SEPEL   - 2017-2

Seminário de Pesquisa em Letras da UTFPR

 

 

PESQUISAS DO TRADLIN - TRADUÇÃO LITERÁRIA (Profª Flavia Azevedo)

 

Ana Luiza Mendes

A tradução histórico-literária: The Canterbury Tales entre dois projetos de tradução

Leonardo Kosak Quadros Garcia e Otávio Augusto Rodrigues Bernardo Silva

Traduzindo Baleia: uma infinidade de veredas em tradução

Gustavo Martins Bossone, Fabiana de Orte Stamm e Wendy Kaori Usuk

Analisando “Lolitas”: Um estudo comparativo entre a tradução literária e a representação semiótica

Luiz Gabriel da Silva Conforto

A Questão do Estilo na Tradução de White Jazz para Português Brasileiro

Vitor de Carvalho Ventura

Uma Breve Análise das Traduções dos Dialetos Em Huckleberry Finn, de Mark Twain, traduzido por Rosaura Eichenberg

Jéssica Luciana de Souza Araújo e Renato França Filho

Sequência Didática Demonstrativa de Uso de Tradução Literária no Ensino de Língua Estrangeira

Nicolas Matheus Fernandes dos Santos

Traduzindo o caipira “redneck” por um socioleto mineiro em Chesnutt: um desafio em tradução literária

Manoel Rigel Dias e Mateus Araújo Braz

A representação de dialetos em As Aventuras de Tom Sawyer em traduções de 1954 e 2002

Miguel Sandin

A importância do contexto cultural na tradução do Bhagavad-gītā

RESUMOS

Ana Luiza Mendes

A tradução histórico-literária: The Canterbury Tales entre dois projetos de tradução.

The Canterbury Tales (1396) é considerado um marco da literatura ocidental e o seu minucioso estudo nos permite identificar uma riqueza de detalhes que corroboram com a denominação de Geoffrey Chaucer (1343-1400) como o pai da literatura inglesa, uma vez que a obra revela importantes elementos para pensar sobre a sociedade medieval e sobre o estabelecimento da literatura e língua inglesas. Dessa forma, ela se revela como uma grande fonte de estudo e, por esse mesmo motivo, exige a intensificação dos esforços para sua interpretação devido à sua complexidade. Para tanto, o objetivo do trabalho é a análise do Prólogo em que os personagens, peregrinos rumo à Cantuária, são apresentados. Nele podemos identificar os principais elementos que serão apresentados nos contos decorrentes e que também se constituem como aspectos fundamentais para a compreensão do período medieval. Diante disso, surgiu um questionamento acerca de que modo as suas traduções permitiram relacionar os aspectos literários com as informações históricas. O estudo partiu do pressuposto de que não existe uma tradução perfeita, uma vez que cada tradutor estabelece parâmetros específicos de tradução consoantes com o objetivo que visa atingir. Assim, esse trabalho não visa apontar qual a melhor tradução, ainda que ela possa ser escolhida diante de critérios subjetivos e, portanto, particulares. O objetivo é, pois, examinar as escolhas tradutórias referentes aos conceitos históricos nas traduções de José Francisco Botelho, edição da Companhia das Letras de 2013, e de Paulo Vizioli, edição da Editora 34 de 2014. Por esse motivo, tal tradução foi denominada de histórico-literária, uma vez que estabelece a relação entre essas áreas. Diante do fato de que a obra é bastante datada, assim como os seus conceitos e referências, buscou-se uma fundamentação teórica pautada na tradução cultural, sobretudo por meio do conceito de tradução hermenêutica de Paul Ricoeur, apresentada em Sur La traduction (2004). Para o autor, a tarefa do tradutor é uma imersão na cultura da obra a ser traduzida para ser capaz de decodificar os significados presentes nas obras que dela emergem. No que diz respeito ao objeto dessa pesquisa, a decodificação perpassa pela forma como é feita a mediação entre os sentidos daquele período e do atual. Também foi importante para esse trabalho a perspectiva de Peter Burke que, em Cultural translation in early modern Europe (2007), aponta para a necessidade de pensar os Estudos da Tradução em consonância com a História Cultural, visto compreender a tradução como uma prática sócio histórica de reescrita, aproximando as tarefas do tradutor e do historiador, uma vez que ambos são mediadores entre o passado e o presente. Diante disso, a pesquisa demonstrou que as duas traduções se apresentaram de forma bastante distintas, uma vez que cada tradutor definiu diferentes maneiras de fazer a mediação de culturas tão longínquas. Botelho se concentrou em posicionar a obra no presente. Por sua vez, as escolhas de Vizioli revelam sua preocupação em transmitir a cultura daquele período sem, contudo, deixar de demarcá-la como uma obra medieval.

Palavras-chave:  The Canterbury Tales, Estudos da Tradução, Tradução Cultural, Literatura Medieval, História Medieval, Interdisciplinaridade

 

 

Leonardo Kosak Quadros Garcia

Otávio Augusto Rodrigues Bernardo Silva

Traduzindo Baleia: uma infinidade de veredas em tradução.

Apesar das línguas humanas possuírem a potencialidade de permitir comunicação e de se expressar artisticamente através da literatura, dentre outras características, nem todos os idiomas possuem o mesmo prestígio. A língua portuguesa, embora sendo uma das mais faladas no mundo (PARKVALL, 2007), possuí um alcance relativamente pequeno se comparada a línguas como o francês e o alemão, especialmente em se tratando de literatura. Uma das motivações por trás deste trabalho, que busca traduzir um trecho do livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos (autor da fase regionalista do modernismo brasileiro), mais especificamente o capítulo Baleia, é permitir a não falantes da língua portuguesa um contato com a criação artística deste autor, como LANDERS (2001) em seu livro , ao se referir à experiência de traduzir Rubem Fonseca. A experiência buscada neste trabalho refere-se à tradução como processo; um procedimento ao qual procura-se impactar o leitor da língua-alvo, adaptando, se necessário, a linguagem do texto-fonte. O estilo seco de escrita de Ramos, que marca fortemente esta obra, é de difícil tradução para a língua inglesa, pois, por exemplo, as sentenças compridas e permeadas de vírgulas não são estruturas comuns no inglês. O vocabulário do interior do sertão brasileiro também é singular por si próprio; a quantidade de vocábulos específicos que precisaram ser estudados e analisados individualmente é grande. A própria questão dos nomes próprios torna-se problemática: Qual a melhor maneira de se chamar a magricela cachorrinha Baleia (Baleia, , Moby Dick, Moby, etc.) em uma língua estrangeira com o mesmo efeito estilístico? Questões como alusões culturais, aliterações e citações, abordadas por LEFEVERE (1992) e questões linguísticas e sociolinguísticas; variantes e variáveis (TARALLO, 1985), por exemplo, são observadas cuidadosamente, e, de fato, chega-se à conclusão que em certas estruturas linguísticas é impossível traduzir mantendo a forma e o conteúdo de forma “fiel” - como o autor havia feito em sua língua original. No contexto do universo de Graciliano Ramos, em que cada sentença transborda secamente o ambiente agreste e hostil, com suas contradições sociais, o aprofundamento psicológico e as incursões metalinguísticas (vide a confusão de Fabiano ao se sentir mais animal por não dominar a linguagem), tem-se à frente uma infinidade de veredas. Talvez os próprios tradutores sejam retirantes. Por fim, conclui-se que o trabalho, além de ter sido um ótimo exercício de tradução para a língua inglesa, pode quiçá expandir o alcance da literatura brasileira como um todo.

Palavras-chave: Tradução, Graciliano Ramos, Vidas Secas, fidelidade

 

Gustavo Martins Bossone

Fabiana de Orte Stamm

Wendy Kaori Usuk

Analisando “Lolitas”: Um estudo comparativo entre a tradução literária e a representação semiótica

 

Lolita (1955) foi a obra prima de Vladimir Nabokov e desde seu lançamento trouxe um grande número de discussões sobre sua interferência nas áreas de estudo da linguagem, tais como literatura e tradução, assim como seu conteúdo, construído minuciosamente durante a narrativa. Apresentando diversas traduções pelo mundo, somente no Brasil foram publicadas três versões do livro, além de serem produzidos dois filmes norte-americanos. Pelo seu conteúdo delicado e a construção narrativa cuidadosamente trabalhada, o presente trabalho visa analisar alterações na estrutura narrativa das traduções, que podem alterar algumas concepções finais do leitor, tendo como foco a personagem Lolita. Desse modo, podemos aplicar a problemática da tradução dos textos tanto na análise do livro nas versões para o português brasileiro, quanto nos filmes produzidos. Ressalta-se, na versão dos filmes, a importância das cenas de longa duração relacionadas às narrativas de desejos íntimos do protagonista, além do questionamento acerca da personagem Dolores (Lolita), cujas características da personalidade apresentadas no livro não são plenamente reproduzidas no cinema. Para a realização deste estudo, foram analisadas as três traduções de Lolita para o Português brasileiro. Os tradutores identificados em cada uma das edições foram respectivamente: Brenno Silveira (1968), Jorio Dauster (2003) e Sergio Flaksman (2011). O estudo parte da hipótese da construção e tradução da personagem Lolita dentro do contexto de vítima, juntamente com o conceito de invisibilidade do tradutor e do diretor (quando abordamos a tradução semiótica). Como exemplo, pode ser citada a passagem na qual o personagem narrador, Humbert, conhece Dolores. No texto original: .”; nas versões brasileiras de 2003 “ajoelhada sobre uma esteira, seminua em meio a uma poça de sol, virando-se para me olhar por cima de seus óculos escuros, lá estava o meu amor da Riviera.”; e de 2011 “... sobre uma esteira de palha numa poça de sol, seminua, ajoelhada, girando sobre os joelhos, lá estava meu amor da Riviera a me examinar por cima dos seus óculos escuros.”. Como resultados da pesquisa, foi observado que as diferentes traduções, apesar de escritas em anos e, consequentemente, contextos diferentes, não apresentaram características diferenciadas na construção da personagem Lolita, mantendo o padrão do comportamento da personagem. Nos filmes. Por outro lado, foi possível observar maiores alterações na personagem, resultando em grandes mudanças no foco da história e ocultando alguns detalhes polêmicos que são pontos chave na construção do livro, levantando, assim, o questionamento acerca da autonomia dos diretores ao produzir um filme e da invisibilidade dos tradutores ao traduzir um livro. Sendo assim, o livro Lolita não apresentou grandes variações no decorrer dos anos, indicando que a tradução manteve-se fiel à versão original, sem, portanto, alterar o foco da história, mantendo o seu teor principal, ou seja, a obsessão de um homem por uma criança, tema, este, não apresentado de maneira explícita nos filmes.

 

Palavras-chave: Tradução, Semiótica, Personagem, Lolita, Nabokov

 

 

Luiz Gabriel da Silva Conforto

A Questão do Estilo na Tradução de White Jazz para Português Brasileiro

O trabalho do tradutor afeta diretamente a percepção que o leitor tem em relação à obra original e seu autor. Desta forma, convém pensar sobre as decisões tomadas no processo de tradução. Quais são as decisões que um tradutor precisa tomar? Quais são os aspectos mais centrais deste processo? Para realizar uma reflexão a respeito destas questões, este projeto toma como paralelo o décimo capítulo de White Jazz (1992), de James Ellroy e sua respectiva tradução Jazz Branco (2000) para a língua portuguesa escrita por Alves Callado, com o intuito de comparar a questão do estilo na obra traduzida em comparação ao original. O embasamento teórico consiste nas considerações de Wills (1998), que caracteriza o processo de tomada de decisões de acordo com o escopo das escolhas que devem ser feitas. Segundo o autor, no macrocontexto analisam-se questões norteadoras do processo de tradução como um todo, como a autoria, intencionalidade, contexto espacial e temporal, e meios linguísticos da expressão. No microcontexto, as decisões são derivadas de situações menos abrangentes, tais como a semântica de determinados trechos, a complexidade da sintaxe e sua relação com a mensagem a ser transmitida, estratégias retóricas, metáforas e outras figuras de linguagem, diferenças culturais, entre outros aspectos. A maneira que um tradutor aborda estes aspectos se orienta a partir de uma dicotomia existente entre as decisões macrocontextuais e microcontextuais. Os critérios comparativos centrais são as escolhas lexicais efetuadas pelo tradutor, e se houve uma manutenção do estilo da obra original. A partir deste estudo, é possível realizar um levantamento sobre quais estratégias foram empregadas nesta tradução, e se elas conduzem a um resultado final satisfatório em termos de estilo. Dentre as questões analisadas no paralelo estão as dificuldades de traduzir gírias através de fronteiras culturais e temporais, a maneira com que o tradutor contorna a redundância em potencial causada pelo uso de vários termos abarcados por apenas uma tradução, e como o estilo do original pode ser traduzido da língua inglesa para a portuguesa, tendo em vista a possibilidade de tal tradução, e a interferência causada por expectativas mercadológicas na publicação brasileira. Levando em consideração as perspectivas sobre qualidade de tradução estabelecidas por House (1998), nota-se que a percepção anedotal ou subjetiva a respeito da qualidade de um texto traduzido é insuficiente, pois não há uma definição teoricamente consistente de questões tais como fidelidade ao original ou fluidez do texto. Deste modo, faz-se necessária uma investigação estrutural mais minuciosa sobre como o texto se articula. Com a comparação direta e estruturada entre o original e o texto traduzido, é possível sugerir que, no que diz respeito à percepção do leitor a respeito do autor do original, há maior relevância da manutenção do estilo de uma obra original, em comparação com a precisão nas escolhas lexicais na tradução.

 

Palavras-chave: Estilo, tradução, White Jazz, Jazz Branco

 

Vitor de Carvalho Ventura

Uma Breve Análise das Traduções dos Dialetos Em Huckleberry Finn, de Mark Twain, traduzido por Rosaura Eichenberg

 

A tradução é uma tarefa que confere, de modo geral, ao executor da mesma certa liberdade de escolha quando posto frente-a-frente com um impasse gerado pela ausência de expressões "equivalentes" ou suficientes na língua-alvo. No entanto, a obra trabalhada aqui possui nota do autor explicitamente enfatizando a existência de sete dialetos distintos contidos no livro, tornando parte da função do tradutor transferir estes dialetos para sua língua-alvo. A intenção desta análise é decompor as traduções utilizadas na edição de Rosaura Eichenberg, de modo a discutir as dificuldades e possibilidades neste processo de tradução, em especial em relação ao Português Brasileiro e sua escassez de dialetos. A escolha pela tradução de Eichenberg foi feita a partir do reconhecimento da tradutora da responsabilidade de manter fidelidade à intenção original do autor. A análise da tradução neste trabalho é feita a partir da separação dos dialetos de Carkeet (1979) e utilizando como referenciais de tradução dialetal os trabalhos de Ranzato (2010) e Bonani (1997), com a intenção de assimilar dificuldades e questionamentos enfrentados em traduções em outras línguas e as incorporar na deliberação da questão brasileira. Nos trabalhos de Ranzato encontramos as dificuldades passadas em específico durante a tradução do inglês , dialeto com profundidade e singularidade similar ao dos dialetos encontrados em Huckleberry Finn por Carkeet (1979). Pela brevidade da análise, apenas três dialetos são utilizados na análise: o dialeto utilizado por Huck ao longo do livro, e dois dialetos distintos de grupos de brancos, formando então uma espécie de "gradiente" dos mesmos não somente em relação ao quanto se distanciam do dialeto de Huck, mas da complexidade destes e a inerente dificuldade de compreendê-los. Embora poucos, os exemplos sejam suficientes para demonstrar a impossibilidade de traduzir com absoluta fidelidade dialetos com pesos históricos profundos e variações dialetais extensas para o Português Brasileiro. Nossa língua não dispõe dos mesmos mecanismos dialetais que o inglês e, portanto é possível apenas fazer uma aproximação básica durante o processo de tradução e deste modo o produto final perde carga significativa de seu valor literário, uma vez que Mark Twain atribuiu a cada personagem um caráter fortemente ligado ao dialeto que fala, por vezes indicando seu status social ou outras tendências do personagem. Traduzir Twain preservando a questão dialetal sem correr o risco de cometer omissões é uma tarefa impossível para a língua portuguesa.

 

Palavras-chave: Twain, Huckleberry Finn, tradução

 

 

Jéssica Luciana de Souza Araújo

Renato França Filho

Sequência Didática Demonstrativa de Uso de Tradução Literária no Ensino de Língua Estrangeira

 

O presente estudo visa à construção de um plano de aula em que a ação de traduzir possua valor e seja, deliberadamente, utilizada como meio de ensino de Língua Inglesa como segunda língua. Nos últimos anos, principalmente devido às teorias de aquisição de segunda língua de cunho mais social, a tradução não é considerada uma ferramenta e, tampouco, um método vastamente aceito em salas de aula devido ao caráter obsoleto que lhe foi impregnado. Quando utilizada, a tradução acaba sendo uma maneira de preencher tempo, aplicada de maneira leviana e impensada (ROSTOCK, 2016). Por esse motivo, para que se possa ter maior aceitação deste plano, é necessária também a desconstrução desta imagem de leviandade e estagnação através da apresentação de um plano de aula em que a tradução desempenhe um papel que favoreça a criticidade linguística do estudante e não apenas a prática de mudança de código. O objetivo deste trabalho é apresentar um plano de aula baseado em uma Sequência Didática que se utiliza da tradução como ferramenta de ensino e reflexão sobre língua. Para tanto, utiliza-se aqui a visão de Guy Cook (1991) sobre a tradução como um mecanismo que evidencia a complexidade e, ao mesmo tempo, as sutilezas que existem entre L1 e L2. No que tange a elaboração do plano de aula, há uma união entre o procedimento de Sequência Didática (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004), consistente de uma série de atividades educativas organizadas sistematicamente em torno de um gênero textual oral ou escrito e do conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (VIGOTSKI, 2002). Este conceito estabelece que os alunos construam o conhecimento a partir da interação com um próximo, cujo nível de proficiência seja maior, uma vez que ainda não estão prontos para apreendê-lo individualmente, que seria a Zona de Desenvolvimento Real (VIGOTSKI, 2002). O corpus utilizado para a construção da SD foram tirinhas da Turma da Mônica - primeiramente em Inglês, para a introdução ao gênero Histórias em Quadrinho, e, posteriormente, em Língua Portuguesa para o planejamento de possíveis atividades modulares e produções escritas parciais e finais. Embora o foco desta SD seja o futuro com , este estudo não trará as análises das produções e o resultado final da aplicação, visto que ela ainda não foi aplicada. Apresenta-se ao final, como resultado, o próprio plano de aula seguindo as teorias e práticas acima descritas. Após a elaboração do plano, concluímos que a tradução pode ser usada como uma ferramenta de ensino eficaz e de cunho crítico, contanto que sua utilização seja pensada e embasada em métodos legítimos. 

 

Palavras-chave: tradução, ensino, sequência didática, história em quadrinhos

 

Nicolas Matheus Fernandes dos Santos

Traduzindo o caipira redneck por um socioleto mineiro em Chesnutt: um desafio em tradução literária

A tradução é uma área com muitos problemas discutíveis e solucionáveis, apesar de sua subjetividade dentro da área da literatura. Entretanto, existem dois grandes problemas para a valorização da tradução em países não anglófonos, já que a “tradução literária, ao menos nos países anglófonos, encontra uma dificuldade que textos escritos originalmente em inglês não encontram: resistência pelo público à leitura de obras traduzidas” (LANDERS, 2001, p. 7). Logo, questões como “como reintroduzir um estereótipo cultural em outra sociedade, por meio da linguagem de um livro?” ou “qual a relação entre personagem cultura-leitor, e como o tradutor se encaixa nesta situação?” (ibid) tornam-se pertinentes na área de tradução.Independente da língua, a relação autor-tradutor-leitor pode ser estabelecida de forma simples e linear. Nessa posição de linearidade temos a vantagem de colocar o tradutor em uma posição intermediária entre o LO (Leitor do Original) e o LT (Leitor da Tradução), pois sem a intervenção do tradutor o autor seria incapaz de alcançá-lo (LANDERS, 2001). A partir desta relação, vemos que cabe ao tradutor apresentar a obra original ao leitor de outra cultura, da forma mais aproximada possível. Mas como fazer isso em uma obra que apresenta um socioleto? Para Lefevere, “a estratégia mais óbvia é meramente substituir um socioleto por outro que tenha um papel similar na cultura para qual a obra é traduzida” (1992, p. 66). O objetivo deste trabalho é elaborar uma proposta de tradução do socioleto da obra de Charles Dickens (1898).Partindo do pressuposto de que não podemos ignorar o papel sociocultural que determinada variante da língua, ou dialeto, possui na sociedade, pois o uso de tal variante foi usado propositalmente pelo autor, nossa metodologia partiu de uma proposta de tradução que substitui o caipira - proposto por Dickens - por um socioleto também da área rural brasileira, o socioleto mineiro. Assim, busca-se manter uma similaridade entre os personagens (o da cultura original, e o da cultura alvo), para preservar as características visadas pelo autor em sua obra. Tal projeto resultou na adaptação dos textos para um formato com características de uma língua diferente, mas similares aos originais, incluindo a eliminação de alguns sons, e a escrita sendo próxima à fala do personagem. Como conclusão, retomamos o próprio conceito de “dialeto” que já denota um padrão linguístico considerado como inferior, pois varia em pronúncia, vocabulário, gramática ou sintaxe, da variante tida como padrão, usada pela classe mais alta (Lefevere, 2001). Então, se devemos substituir um socioleto por um na língua alvo que tenha o mesmo peso cultural, acreditamos que o uso do socioleto mineiro pode ser considerado uma boa alternativa para a tradução do caipira de Dickens neste projeto de tradução da obra .

Palavras-chave: Tradução, Socioleto, Dialeto, Literatura

 

 

Manoel Rigel Dias

Mateus Araújo Braz

A representação de dialetos em As Aventuras de Tom Sawyer em traduções de 1954 e 2002

 

A tradução é essencialmente um processo de tomada de decisões. O tradutor é responsável por escolher como algo dito por alguém do outro lado do mundo chegará aos olhos e ouvidos das pessoas daqui, e vice-versa. Essa tarefa é extremamente delicada, fato este que pode ser observado com clareza quando o tradutor se vê diante de uma discrepância cultural entre a o povo da língua de origem com relação ao da língua alvo. A literatura, já uma arte complexíssima por seus próprios méritos, agora adicione um fator de adaptação, e está criada uma questão insolúvel. O tradutor responsável por traduzir uma obra literária se encontra em uma situação delicada, onde uma pequena decisão pode irritar alguma das diversas partes envolvida, sejam seus editores, sejam seus leitores, ou até o autor original. Frequentemente vemos críticos literários, quando questionados sobre o valor de determinadas obras, armando que boa parte de sua importância reside no retrato que o autor construiu de alguma época, povo, cultura etc. Muitos dos que consideramos grandes autores tem méritos na sua destreza de dobrar as palavras para marcar o jeito de falar de uma população em um momento do tempo. Ademais, o tradutor que tiver que lidar com os dialetos apresentados no texto fonte terá de escolher um modo de levar aquilo para um idioma onde aquele dialeto nunca existiu. Dentre os autores norte-americanos, poucos retrataram o sul de seu país como Mark Twain, exímio em converter para texto os dialetos que ouviu durante sua vida. O que este trabalho buscar fazer é analisar duas traduções de “As Aventuras de Tom Sawyer” por Mark Twain, uma de 1954, publicada pela editora Edigraf e traduzida por José Maria Machado; e outra de 2002, publicada pela editora L&PM, com tradução de Willian Lagos. Tendo como base os escritos de Clifford Landers (2001), Maristela Cury Sarian (2008), B.J. Epstein, Johnwill Costa Faria e Válmi Hatje-Faggion (2011), podemos contrastar duas traduções produzidas com um tempo relativamente grande entre elas e observar como cada tradutor, em sua época, optou lidar com os diálogos na obra, e verificando assim o que se ganha e o que se perde em cada uma das metodologias utilizadas. Ademais, notou-se que a questão da tradução de marcas da oralidade em literatura depende de diversos fatores, internos e externos ao processo tradutório, tornando difícil postular uma relação de superioridade entre as diferentes visões do tema.

 

Palavras-chave: Tradução literária, Dialetos, Teorias da Tradução

 

Miguel Sandin

A importância do contexto cultural na tradução do Bhagavad-gītā

A literatura Védica, da Índia antiga, serviu de inspiração e fonte de conhecimento filosófico à diversos autores ocidentais, especialmente em meados do século XIX, contexto em que tais obras milenares, do sânscrito, passaram a ser traduzidas para línguas ocidentais. De forma que, até a chegada de A.C Bhaktivedanta Swami Prabhupada –nascido na Índia- ao ocidente, na década de 1960, já havia cerca de seiscentas traduções do clássico filosófico-religioso da Índia antiga, o , para a língua inglesa. Porém, não havia nenhum devoto de Kṛṣṇa (Deus, o orador do ), Indicando que a essência do diálogo entre Kṛṣṇa e Arjuna não haviam sido captadas pelos tradutores de então. Tal fato se altera com a tradução de Prabhupada, O como ele é, que conta com o sânscrito no alfabeto original (), uma transliteração fonética ao alfabeto latino, tradução palavra por palavra e uma explicação sobre cada verso. Juntamente de tal tradução, ergueu-se o movimento Hare Kṛṣṇa (de devotos de Kṛṣṇa).Desta forma, considerando o baixo número de estudos na área da tradução voltados à língua sânscrita em conexão com seu contexto de produção, de prática do conhecimento ou cultura, esta pesquisa visa analisar a importância de se conhecer profundamente o contexto cultural de produção de uma obra no fazer de sua tradução. Para tanto, serão comparadas diferentes traduções do : a versão de Prabhupada, O como ele é; A Sublime Canção, de Rohden e a Mensagem do Mestre, de Lorenz; levando em conta conceitos da filosofia oriental (PRABHUPADA, 1994; SATSVARUPA, 1994), como Karma, reencarnação, Personalismo, Impersonalismo, o “eu”, entre outros; e da teoria da tradução (TRIVEDI, 2007), no que diz respeito à alusão cultural ou tradução de termos específicos para buscar avaliar a proximidade ou não com o contexto de produção e, no caso do , de prática deste conhecimento. Como resultado, pode-se notar que as traduções desprovidas do background cultural tornam-se esvaziadas de diversos conceitos (tais como o aspecto pessoal do supremo; o sistema social apresentado por Kṛṣṇa; aspectos da reencarnação – a possibilidade de perda do corpo humano-; e diversas metáforas: o corpo como cidade com nove portões, entre outras); Além disso, mesmo a postura do tradutor se altera perante a obra: um (Prabhupada) considera o diálogo um fato histórico, ao passo que os outros dois consideram uma metáfora. Sugerindo que, na busca por uma tradução com sentido mais próximo ao da obra original, é de grande importância, ao tradutor, ter ciência do contexto e da cultura em que a obra foi produzida.

 

Palavras-chave: Bhagavad-gītā, Tradução comparada, alusão cultural, Sânscrito

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